Minha experiência completa com o Piracetam - um relato

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O piracetam é capaz de afiar a memória e melhorar o raciocínio - prometiam cobaias humanas em fóruns. Decidi testá-lo.

Autoria anônima. O texto não constitui endosso ao uso do medicamento descrito. A automedicação apresenta riscos à saúde. Não se automedique

LEIA TAMBÉM: um dossiê sobre o piracetam

Veja bem: eu não podia reclamar muito da minha memória. Modéstia à parte, consigo reter bem informações na cachola. Também não tenho distúrbios de atenção. Mesmo durante aulas que muitos considerariam maçantes, sou capaz de me manter focado com algum esforço.

Uma mente saudável, você poderia dizer.

Em busca de um elixir mental

Mas não me dei por satisfeito. Passei a me questionar se havia algum jeito - farmacológico - de ampliar as minhas capacidades de raciocínio, concentração e memória - para além do "normal".

Sem a loucura de usar um medicamento controlado, como uma Ritalina da vida. Eu buscava um medicamento de fácil acesso e que apresentasse um bom perfil de segurança.

Parecia ficção científica. Afinal, se existisse mesmo um comprimido que fosse ao mesmo tempo relativamente seguro e eficiente em "aumentar a inteligência" ou coisa assim, ele deveria ser sucesso de vendas. E famoso.

Conhecendo os nootrópicos
Mesmo cético, eu decidi pesquisar pela Internet. Bingo! Descobri, em fóruns estrangeiros, uma legião de entusiastas por nootrópicos. 

O nome soa estranho? É um termo para descrever substâncias das mais diversas que, supostamente, são capazes de aumentar a memória, clarear o raciocínio e beneficiar o cérebro.

O queridinho desses fóruns tinha nome: piracetam. É uma substância desenvolvida em laboratórios nos anos 60 - e que deu origem ao próprio termo "nootrópico" por suas propriedades. Hoje, é vendido em vários países, com indicação para distúrbios intelectuais.

Mas os usuários do piracetam pregavam que a droga deixava o cérebro saudável mais afiado. Websites informais sobre o tema engrossavam o coro: promessas de ajudar a manter a atenção, retenção e recordação de informações.

Os efeitos colaterais, quando a dosagem usual era respeitada, seriam raros e brandos, diziam.

Diante daquelas promessas de leigos, e por não ser um medicamento controlado, eu decidi experimentar o piracetam (e não indico que ninguém faça o mesmo sem aval médico).
Colocando à prova

Da primeira vez que eu usei piracetam, fui para uma chamada "dose de ataque" - ciente do risco de efeitos colaterais. Era uma dose maior, defendida pelos usuários daqueles fóruns, mas com pouco ou nenhum respaldo científico.

Eu ingeri 4,8 gramas - 6 comprimidos de sabor muito amargo de Nootropil, cada um com 800 mg. Estava em um aula e lembro que, em poucos minutos, após a ingestão, eu senti um estado de clareza mental que jamais havia experimentado antes.

O gif acima, do filme Limitless, dá uma ideia boa da minha reação, apesar de o modesto piracetam estar bem longe de ser um NZT-48, a droga mágica do filme.

Por "clareza mental" eu quero dizer: um raciocínio menos bagunçado e mais ágil. Também um interessante aumento da consciência e da percepção do próprio ambiente onde eu estava.

Não, não era efeito placebo, isso eu tinha certeza. E eu digo isso porque notei algo incrível peculiar: as cores tinham se tornado mais vivas, vibrantes e puras. Não era um efeito psicodélico - pelo contrário, como eu disse, eu estava bem lúcido.

Sabe quando você está editando alguma imagem e vai brincando com os efeitos como intensidade, brilho e contraste? Parecia que a minha visão havia sido ajustada e tudo se tornou mais "claro" e mais interessante. Eu estava muito calmo, sem ansiedade ou agitação alguma. Só que, em vez de focar na aula, minha concentração estava nos curiosos efeitos visuais que o medicamento trouxe.

Suplemento de lecitina de soja, indicado ao se fazer
uso do piracetam

Mas, não muito tempo depois, isso passou e o Nootropil me deu foi uma forte dor de cabeça e um cansaço tremendo. Descobri que a dose de ataque era desnecessária e que havia uma possível explicação para os efeitos colaterais - de acordo com os "experts" dos fóruns.

Eles especulavam que a raiz do problema é que o piracetam diminui os níveis de uma vitamina pouco conhecida chamada colina.

Para entender: a colina é matéria-prima para seu cérebro fabricar um mensageiro químico envolvido com a memória e da aprendizagem - a acetilcolina. Por si só, a colina pode ter efeitos positivos na cognição, se a pessoa tem alguma deficiência.

Enfim, estudos em animais sugerem que o piracetam aumenta o uso e a produção cerebral da acetilcolina - o que explicaria alguns dos seus benefícios cognitivos.

O problema: os estoques de colina, a matéria-prima para formar acetilcolina, iriam se esgotar. E as teorias dos especuladores do fórum é que essa deficiência causaria as dores de cabeça.

Piracetam e colina (lecitina de soja)

Por causa disso, comprei um suplemento fonte de colina, a lecitina de soja. Apesar de não ser uma fonte tão rica de colina, foi o melhor que pude encontrar na época. 

Passei a ingerir doses menores de piracetam (1 a 2 comprimidos de uma vez, no máximo 3 vezes ao dia), junto de 1 cápsula de 1200mg de lecitina de soja. Tive melhores resultados: além de um aumento (ainda que mais brando) da percepção visual, o piracetam com colina induzia um estado de bem-estar e interesse pelos assuntos das aulas.

O Piracetam aumentou minha fluidez verbal

Efeitos do piracetam em médio-prazo
Outro efeito que me surpreendeu foi um aumento substancial na fluidez verbal. Eu me tornei mais preciso na hora de me comunicar, por vezes eloquente, fazendo comentários inteligentes e ágeis durante conversas e debates. Eu acho que sagacidade é a melhor definição: as palavras pareciam surgir sem esforço e sem demora.

Isso também foi notório na hora de escrever redações. Eu percebi que eu era capaz de aumentar a coesão do meu texto, amarrar melhor as minhas frases e torná-lo mais interessante. Eu estava mais confiante na hora de comunicar as minhas ideias.

Os hemisférios do cérebro de Einstein
eram incrivelmente conectados

Talvez isso seja porque alguns estudos (antigos e em animais, porém) sugerem que o piracetam aumenta a comunicação entre os dois hemisférios do cérebro - o que traria mais criatividade.

Diga-se de passagem, um estudo inclusive demonstrou que os dois hemisférios do cérebro do Einstein eram incrivelmente conectados um ao outro, o que pode ter contribuído para o brilhantismo dele.

Infelizmente, não desenvolvi teorias mirabolantes em física, nem me tornei um gênio. Mas, certamente, o piracetam mudou a maneira que meu cérebro operava, de alguma forma.

Com o passar dos dias, eu notei um sutil aumento na memória. Pode ser placebo. Mas, mais uma vez, há estudos em humanos demonstrando esse efeito.

Embora bastante antigo, este estudo científico comprovou que o piracetam tem efeitos cumulativos na memória: após cerca de 14 dias, houve aumento significativo da memória verbal daqueles que tomavam 1600 mg de piracetam, três vezes por dia - a um total de 4800 mg.

Minhas conclusões
Não acho que vale a pena fazer uso contínuo do piracetam. Eu costumo calcular o tempo antes de uma prova para iniciar um regime com Nootropil, iniciando-o cerca de 20 dias antes.

Fica mais fácil estudar. E, principalmente, placebo ou não, sinto que as informações que revisei ficam mais consolidadas. Os leves ganhos na memória me ajudam.

Não, o Nootropil (piracetam) não é nenhuma panaceia como muitos sugerem. Ele não dá ao cérebro superpoderes. Muitos estudos que temos sobre esse medicamento são antigos - e são raros em pessoas saudáveis.

Algumas pessoas não se dão bem com o remédio, é claro. Diz a bula que é  é possível haver efeitos adversos, geralmente raros e de curta duração - ansiedade, insônia e agitação. Isso reforça a importância de que o medicamento seja prescrito e seu uso orientado por um médico - pois só ele pode avaliar fatores individuais contraindicações, interações medicamentosas e outros.

Portanto, apesar de ser um medicamento curioso e aparentemente seguro, não automedique-se.
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Há também outros nootrópicos além do piracetam: eu falo sobre 16 dessas substâncias usadas para aprimorar a cognição em meu livro digital, Turbine seu Cérebro.

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O livro tem apenas fins de informar e discutir sobre essas substâncias, sem incentivar ou recomendar o seu uso.